Seis Meses de Gestão

Em janeiro desse ano (2022), perto de completar 8 anos como desenvolvedora na Stack, aceitei mudar de carreira e passar a ser gerente do meu time. Lembro que na época alguns amigos me perguntaram (em tom de brincadeira, mas com certa preocupação) se eu tinha sido obrigada a aceitar a “promoção”, como se fosse algo indesejável. Mea culpa, visto que eu certamente disse em inúmeras ocasiões que era muito feliz programando e queria continuar programando indefinidamente (certamente há evidências em podcasts, blogs ou palestras). Mas sim, foi uma decisão pessoal e o fator motivador foi realmente sair do conforto e aprender algo totalmente novo. Agora que já estou desconfortável há seis meses, achei válido escrever um pouco sobre o que aprendi e o que ainda preciso aprender.

Coisas Novas e Boas

1. Organizando tempo

Depois de um período de adaptação, quando entendi que todo tempo livre na minha agenda será inevitavelmente preenchido com uma reunião se não for bloqueado, finalmente aprendi a organizar melhor meus horários e minhas atividades. Pra mim é muito importante reservar blocos de pelo menos duas horas pra tarefas que requerem mais concentração. Escrever relatórios, preparar apresentações, definir processos, não consigo fazer nada disso em bloquinhos de quinze minutos ou meia hora. Até revisar documentos - a depender do tamanho e importância do documento. Minha solução é, toda semana, agendar ao menos 3 blocos de 2 horas ou mais e deixá-los bloqueados na agenda (preferencialmente no início ou fim do dia, pois minha energia cai substancialmente à tarde). Pra entender melhor onde investi meu tempo ao final da semana, continuo usando o Toggl. E pra bloquear horários na agenda, uso o Focus Time do Google Calendar.

Focus Time no Google Calendar

2. Organizando trabalho

Como diretora minha maior dificuldade é bolar e priorizar o que eu tenho que fazer, “sozinha”, caçando processos ineficazes e pensando em como podemos melhorá-los. O trabalho de gestão é, descobri, muito relacionado a observar e identificar problemas. Nenhum PM vai me dizer o que fazer, pra eu só precisar me preocupar com como fazer. Além disso, novas demandas e problemas surgem toda semana: incidentes, discussões acerca de “que time é responsável por isso”, demandas urgentes que envolvem vários times e precisam de coordenação… enfim. No começo era muito fácil me “perder” na quantidade de abacaxi que surgia pra descascar. Daí veio a ideia de criar um board no Trello, privado mesmo, onde coloco meu backlog, prioridades da semana e quaisquer projetos que me tomem mais que meia hora pra resolver. Mas o Trello me dá um nível de granularidade muito geral, então continuo usando meu caderninho pra quebrar os cards em mini tarefas, hábito que cultivo desde que era desenvolvedora júnior. Nada substitui riscar uma mini tarefa concluída com o lápis. Por exemplo, tenho um card no Trello pra “coordenar finalização da migração pra .NET 6”. No meu caderno, essa tarefa se divide em seis mini tarefas: 1) identificar TODOs restantes, 2) colocar numa planilha, 3) mapear os times responsáveis por cada TODO, 4) enviar pra revisão pros outros managers, 5) comunicar pros times, 6) reportar deadline de conclusão pro meu gerente. Até aqui tem funcionado bem, tanto pra me ajudar a não esquecer nada importante quanto pra melhorar minha produtividade.

3. Tornando meu trabalho visível

Quando estava já há uns três meses atuando como gerente, num 1:1, me fizeram a seguinte pergunta: “o que um gerente faz aqui na empresa, fora 1:1s?“. Foi aí que percebi que precisava dar mais visibilidade ao meu trabalho. Botar tudo que faço no meu Trello privado acaba sendo uma mão na roda, mas fora isso decidi também toda sexta-feira escrever um “Roberta’s Weekly Newsletter”, inspirada pelo meu CTO que tem um hábito parecido. Minha newsletter tem um breve resumo de 2 ou 3 principais “temas” que tomaram meu tempo na semana, uma recomendação de leitura, algumas métricas que tenho acompanhado e minha leitura delas (no momento, # de PRs mergeados na semana, time-to-merge, e # de PRs que estão há muito tempo na fila). Também coloco coisas aleatórias, como uma breve descrição do feriado de São João na newsletter de 24 de junho.

Coisas Novas e Não Tão Boas

Há um tempo peguei ranço de me referir a programação como uma paixão, coisa que fiz durante anos no início da minha carreira. Mas tinha algo ali que me empolgava, uma chuva de endorfina que me impedia de desligar o laptop, me fazia passar horas programando por vontade, não por obrigação. A verdade é que eu percebi que programar em si não era exatamente minha “paixão”. Eu gosto de solucionar puzzles. O que me move é sensação de descobrir a causa de um problema - e claro, de corrigí-los e colocar soluções em produção. Também adoro a sensação de desbloquear pessoas ou melhorar as experiências delas, independente de quantas pessoas são impactadas diretamente pelo meu trabalho. Fiquei tão feliz quando pude automatizar uma planilha pro meu pai, com N = 1, quanto quando mudei a página inicial do Stack Overflow, com N > 50 milhões. Tudo isso foi pra dizer que quando aceitei virar diretora, minha esperança era de que essas pequenas alegrias que eu tinha colocando código em produção virassem pequenas alegrias ao ver meu time fazendo o mesmo, ou evoluindo como desenvolvedores.

A realidade é um pouco mais complicada, entretanto. Eu ainda estou em busca de um substituto pra sensação que eu tinha ao corrigir um bug ou ajudar um colega a debugar alguma coisa. Agora eu tenho mais poderes, mais responsabilidades, um impacto mais estratégico e de médio a longo prazo. Sinto falta de me recarregar com as alegrias de curto prazo. Eu as chamo de “micro-wins”: numa boa semana, como desenvolvedora, eu tinha 2-3 dessas “micro-wins”. Como gerente eu tenho tido dificuldade em encontrá-las. Minha mentora uma vez me disse que eu desapegasse, que os “wins” agora serão mais “macro”, e que dar bons conselhos e fazer perguntas que levem a bons resultados são coisas que podem me causar a mesma satisfação. Mas são também situações menos tangíveis e mais subjetivas. A conferir.

Coisas Velhas

Algumas coisas mudaram muito pouco, e acho que elas estão mais relacionadas a como eu gosto de aprender de forma mais geral. Livros têm uma importância enorme pra mim: ler é (ainda) minha forma favorita de aprender, embora escrever não seja minha forma favorita de ensinar (vide a minha falta de regularidade nesse blog :)). Pedi indicações de livros de gestão em janeiro e comprei mais livros do que pude ler até agora. Confesso que alguns foram um suplício - de fato tem muito lugar comum em livro de gestão, o que torna todos meio parecidos e cansativos pra mim. Outros foram mais leves e divertidos. Mas vou fazer um post separado só pra falar do que aprendi com meus livros favoritos (e o que me irritou em outros livros não tão favoritos assim).

Para Saber Mais

Escrevi um tanto mais sobre minha jornada e aprendizados numa mini-entrevista elaborada pelo Elton Minetto para a newsletter dele. Vale a leitura pra quem ficou curioso.